5 motivos que explicam porque o G-4 não veio para o Cruzeiro


A chegada de Mano Menezes ao Cruzeiro aos poucos foi fazendo com que o torcedor cinco estrelas fosse, a cada rodada, alimentando a perspectiva de disputar a próxima Copa Libertadores.

Da briga contra o rebaixamento a Raposa avançou para o 8º lugar, onde estagnou nas duas últimas rodadas quando já não tinha mais chances matemáticas de classificação para a principal disputa continental.

O sentimento na maior parte da torcida, contudo, não foi de frustração. As perspectivas antes da chegada de Mano Menezes não eram nada satisfatórias e o fim do ano ao menos foi tranquilo.

Contudo, o clube celeste não pode considerar que o desempenho em 2015 foi de acordo com as tradições do clube e enquanto 2016 não chega cabe refletir porque o G-4 não veio. Ao menos cinco motivos explicam porque.

1) Gilvan diretor de futebol e as contratações do início do ano

Muita gente gosta de dizer que a saída dos protagonistas do bicampeonato matou as chances do Cruzeiro ter um 2015 vitorioso e que é normal passar por um período de baixa após o triunfo. Eu discordo.

As propostas que chegaram para Lucas Silva, Everton Ribeiro e Ricardo Goulart eram irrecusáveis (para o clube e, ao menos do ponto de vista financeiro, para eles). O Cruzeiro não teria como mantê-los insatisfeitos com a perda financeira que teriam, além do ato ser uma grande ingratidão aos serviços prestados pelos jogadores. Mas a reformulação do elenco foi catastrófica.

Sem Alexandre Mattos, Gilvan se declarou diretor de futebol do clube e assumiu a missão, ao lado de Valdir Barbosa, de ir ao mercado. A experiência foi desastrosa.

Chegaram jogadores como Seymour (com um ano de inatividade após passagens modestas por clubes da segunda divisão da Itália), Henrique Dourado e até mesmo Riascos, por incrível que pareça, que sequer terminaram o ano no clube.

Leandro Damião chegou a peso de ouro como se fosse ainda o atacante que brilhava pelo Internacional em 2012. Paulo André também veio com gabarito que nunca teve. De Arrascaeta e Willians, as duas contratações do início do ano que terminaram a temporada com a titularidade, chegaram no final de fevereiro após negociações que demoraram semanas. O que podia ser feito de errado neste momento, foi.

2) Vaidade e imediatismo

Gilvan merece novo destaque, mas as decisões centralizadoras do início da temporada se estenderam ao longo do semestre em demonstrações profundas de vaidade e de uma leitura imediatista de futebol.

Marcelo Oliveira, comandante do bicampeonato, não foi ouvido na reformulação do elenco. Nomes como Leandro Almeida, Arouca, Gabriel e Robinho (todos foram para o Palmeiras) eram algumas de suas indicações, mas a diretoria lhe entregava peças com as quais deveria se virar (a qualidade delas vimos no item 1). O pedido por um meia, apesar dos esforços para contratar Lucas Lima, não foi atendido e Gilvan, insatisfeito com as queixas do treinador, por vezes minimizou o mérito de Marcelo Oliveira na conquista do bicampeonato.

Veio a perda do estadual e da Libertadores e, junto dela, a demissão de Marcelo Oliveira. Corinthians e Atlético-MG, que iniciaram a temporada com Tite e Levir Culpi, foram eliminados antes do Cruzeiro e mantiveram seus treinadores, ao passo que Gilvan revelou ter se arrependido de não ter demitido Marcelo antes. Curiosamente (ou não), os clubes que mantiveram seus treinadores após a queda na Libertadores foram os dois primeiros no campeonato. Já Cruzeiro e Internacional, os dois brasileiros que foram mais longe na competição continental, modificaram suas comissões técnicas e terminaram a temporada sem nova vaga para o torneio.

3) Visão desatualizada e Luxemburgo

Ao demitir Marcelo Oliveira o Cruzeiro não definia com isto seu rumo na temporada. A escolha do novo treinador, por sua vez. poderia significar, inclusive, a melhoria da equipe, uma vez que nem toda troca é prejudicial (embora trabalhos demandem tempo para serem avaliados e mereçam respaldo, o que não houve com Marcelo em 2015). Mas a escolha do substituto dificilmente poderia ser pior.

Com a lembrança de 2003 na memória, Gilvan ignorou o passado recente de trabalhos de Luxemburgo, questionado por falta de treinos, desconhecimento do mercado e dos adversários, e trouxe o treinador de volta ao clube. Junto a isto, lhe deu carta branca para indicar, inclusive, o diretor de futebol, trazendo assim o cupincha do professor, Isaías Tinoco.

A passagem de Luxemburgo e Tinoco foi desastrosa e desprezadas as três primeiras vitórias (conquistas na primeira semana de “trabalho”) o aproveitamento da dupla era pior que o do Vasco em seu pior momento no campeonato.

A desatualização fez ainda com que a diretoria e a comissão técnica ignorassem a possibilidade de contratar Nenê, vetado por Luxemburgo. Para justificar, Gilvan disse que jogadores que chegam do exterior demandam meses para se adaptar e citou o exemplo de Sorin em 2000 quando chegou ao Cruzeiro. Ignorando assim exemplos recentes no clube como os de Gilberto em 2009, Montillo em 2010 e Willian já em 2013.

A falta de conhecimento no período era tão grande, aliás, que Ariel Cabral, o único ponto positivo deste período, foi apresentado como camisa 10. Ninguém no clube parecia ter a menor noção do que o argentino poderia fazer em campo, mas o destino quis que sua contratação fosse um tiro certeiro no meio do escuro.

Com péssimos resultados e uma coletiva desastrosa de Tinoco, não houve alternativa que não fosse a demissão da dupla (que pela falta de trabalho e desatualização demonstrada demorou demais). Em compensação, após isto houve o maior acerto na temporada. A reformulação da diretoria e a chegada de Mano Meneses.

4) O campeonato começa na primeira rodada

Não dá para culpar ninguém, uma vez que a prática é comum no futebol brasileiro. No entanto, o Cruzeiro disputou as três primeiras rodadas do campeonato com reservas e neste período conquistou apenas 1 ponto, sendo dois jogos disputados na condição de mandante.

Cinco pontos a mais neste período, justamente os perdidos em casa, e o Cruzeiro estaria na Libertadores em 2016.

5) Desempenho contra os mais fracos

Em 2013 e 2014 o Cruzeiro atropelou os adversários da parte de baixo da tabela. Em 2014, aliás, o clube foi tão eficiente neste quesito que sequer precisou vencer Corinthians, São Paulo e Atlético-MG para estabelecer o que era, até a campanha do alvinegro paulista neste ano, o recorde de pontos no Brasileirão de pontos corridos com vinte clubes.

Contra os rivais da zona de rebaixamento, o Cruzeiro teve desempenho medíocre. Derrota para Joinville em Santa Catarina, dois empates contra o Avaí e empate com o Vasco no Mineirão. Somente o Goiás dos quatro últimos foi derrotado pelo Cruzeiro duas vezes.

O aproveitamento de 62,5% contra estes adversários não chega a ser medonho, mas é muito baixo para uma equipe que almeja o G-4 e que só supera os 50% de aproveitamento no confronto contra dois dos dez últimos da classificação (Vasco e Goiás)

Flamengo (12º), Fluminense (13º), Chapecoense (14º) , Coritiba (15º) e Figueirense (16º) também venceram o Cruzeiro na competição e dos clubes localizados entre o 11º e o 16º lugar, apenas a Ponte Preta, que empatou com a Raposa no Mineirão e foi derrotada em Campinas, não tomou ao menos 3 pontos do time celeste na classificação.

por: João Henrique Castro