Alexandre Mattos coloca o Cruzeiro no rumo certo


Somos uma torcida das mais críticas, daquelas chatas mesmo, que pegam no pé de dirigentes e não se contentam com o pouco que eles às vezes fazem. Afinal, ao longo da história estivemos acostumados a glórias, títulos, bons jogadores. Entretanto, é necessário saber reconhecer quando algo de positivo está sendo feito. Mais do que isso; quando algo de positivo ao Cruzeiro, embasado em trabalho firme, começa a entrar nos eixos.

A passagem desastrosa do antigo diretor de futebol do Cruzeiro, Dimas Fonseca, deixou todos em estado reticente quanto ao seu substituto, Alexandre Mattos, que vinha então de cinco anos de trabalho pelo América e conseguira o acesso à série A do Campeonato Brasileiro em 2011. Nada mais natural, já que a experiência anterior ficou marcada pelo fraco tino e pouca ambição, o nome de Mattos soava ali como mais uma aposta no escuro, incerta. Confesso que eu mesmo cheguei a questionar a escolha, afirmando que seria algo mais do mesmo. Porém, em três meses na função, Mattos vem mudando minha opinião quanto ao seu trabalho. E imagino que de boa parte da torcida celeste também.

Antes de qualquer coisa, é preciso deixar claro aqui, amigo leitor, a consciência de quem vos escreve de que não estamos em mares 100% calmos, de que todos os problemas foram sanados ou muito menos não enxergar que há muito trabalho ainda a ser mostrado e feito no atual Cruzeiro. Contudo, Alexandre Mattos vem desempenhando seu papel de forma bem interessante e apresenta evolução. Apesar das eliminações na Copa do Brasil e Campeonato Mineiro, ainda em meio a uma transição difícil no lado político, o balanço de seu trabalho pode ser considerado animador. A qualificação do elenco celeste tem sido o principal foco, haja vista que Mattos trouxe nove jogadores até então, conseguiu segurar Montillo e Wallyson e ainda promoveu uma “limpa” interessante em nomes que não vinham agregando e onerando os cofres celestes. Com a verba economizada com salários, outros jogadores foram chegando e a casa sendo arrumada aos poucos.

É interessante também analisar o contexto e o momento da escolha por Celso Roth que Alexandre Mattos acabou fazendo. Apesar de não ser unanimidade por onde tenha passado, Roth tem sim o perfil que o Cruzeiro precisa no atual momento de transição e reformulação da equipe. Se analisado com calma e sem pré-conceitos, veremos que o contexto cruzeirense exigia sim uma cautela maior, pois estaríamos entrando em um campeonato nacional totalmente despreparados e com um elenco inseguro de suas capacidades. Juntamente com a diretoria, Mattos parece ter acertado até aqui na opção pelo treinador, que aos poucos vai reconstruindo o futebol do Cruzeiro à sua maneira e com as peças que tem.

De positivo também fica a presença e a sensação de estar em constante atividade em prol do clube que Alexandre Mattos tem demonstrado. Lembro-me bem que no período recente, pós-eliminações, o diretor deu a cara a tapa, colocou-se a frente do futebol do Cruzeiro e tentou blindar da melhor forma um elenco ali frágil e sob desconfiança. Dentre as várias incumbências de um diretor de futebol, a de funcionar como ponte e escudo entre jogadores, direção e torcida é talvez uma das principais. Além disso, quem cobre o Cruzeiro diariamente confirma que Mattos é figura carimbada assistindo aos treinos, dialogando com a comissão técnica e sempre solícito às explanações a respeito do clube.

Entretanto, é no trabalho de busca pela qualificação do elenco que Alexandre Mattos vem evoluindo de forma mais positiva. Justiça seja feita, ele assumiu seu cargo com o Cruzeiro em grandes dificuldades financeiras e com uma perspectiva bastante desanimadora em relação a reforços. Os nomes trazidos anteriormente eram de jogadores abaixo da média e que correspondiam com a realidade financeira do clube. Porém, ao longo dos últimos meses, o Cruzeiro volta a retomar seu prumo. Os novos jogadores que foram chegando correspondem a um novo perfil de contratações mais seguro e de qualidade mais elevada. A negociação com nomes como Rafael Sóbis e Lorenzetti – a apresentação de proposta em dinheiro, outrora impossível devido à dificuldade de recursos – e por último, a contratação de Martinuccio e principalmente Borges, dão mostras da volta da ambição em fortalecer a equipe e confirmam o caráter evolutivo de sua gestão. São nomes que chegam para jogar, tentar resolver carências, ao invés de apenas comporem ou fazerem número na Toca.

Ao chegar ao Cruzeiro, ainda em abril, Alexandre Mattos destacou como normal a desconfiança sobre seu trabalho e que o respeito e admiração viriam através da boa execução do mesmo. Sabia da pressão e importância que seu cargo iria lhe impor e, pensando grande, suas palavras eram não apenas de fazer boa campanha, mas sim buscar conquistas. Ele sempre esteve certo. Ainda é cedo para qualquer comemoração e deslumbramento. Mas aos poucos o Cruzeiro vai retomando a sua força, com a saudável e essencial ambição que respiram os grandes clubes. E Alexandre Mattos, com um bom trabalho, tem contribuído para isso.