Caso Cacá: O racismo que a gente não vê


O fato

O Zagueiro Cacá, 19 anos, foi detido na madrugada do dia 13/01/2018, acusado de porte de drogas. Com o jogador foram encontrados dois cigarros de maconha pela metade e oito buchas do mesmo entorpecente. Cacá foi liberado e deverá prestar esclarecimentos posteriormente. O Cruzeiro afirmou que tratará do assunto internamente.

Os efeitos da maconha

Existem dois principais tipos de maconha comumente encontrados no Brasil: a Cannabis Sativa e a Cannabis indica. Enquanto a primeira tem efeito energizante e estimulante, a segunda tem efeito de relaxamento e sonolência.¹ O estereótipo do usuário lento e aéreo se refere ao uso do segundo tipo. Não se tem informações sobre qual espécie de maconha o atleta fez uso.

O racismo explicito

Cacá é um atleta negro retinto, ainda não reconhecido. Até então, um jovem negro dirigindo um carro de luxo na madrugada de BH. No Brasil, é comum a abordagem policial a pessoas negras baseada em estereótipos de raça. A situação inclusive chamou a atenção da ONU (Organização das Nações Unidas), que em novembro de 2017 realizou uma conferência para discutir o assunto². De acordo com Sandra Aragon, oficial de direitos humanos do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Genebra “A abordagem racial dos afrodescendentes viola seus direitos humanos, porque são baseados em generalizações e estereótipos e não em observações objetivas”.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública ³, em 2018, foram 5.144 mortes devido a ação militar, enquanto 367 policiais foram mortos em decorrência da profissão. Um fator converge nesses números: A maior parte das vítimas é negra.

Isso também se reflete na população carcerária: em 2016, haviam cerca de 690 mil pessoas detidas e 40 mil sobre custódia policial. Desse total, 67% são pessoas negras. E 37% ainda não passou por nenhum tipo de julgamento.

Alguns casos para refletir são o da modelo Bárbara Querino, condenada por assalto em uma cidade onde não estava e de Rafael Braga, único preso pelas manifestações de 2013, por porte de Pinho Sol. Enquanto isso, Breno Borges, o filho da desembargadora do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS) Tânia Garcia de Freitas Borges, encontrado com 130 quilos de maconha e 200 munições de fuzil em 2017 e que teve mais alguns tabletes de maconha encontrados no carro em março de 2018 continua em liberdade. Pra não ir tão longe, basta lembrar do filho de um ex-senador que teve 400 kg de cocaína encontrados em um helicóptero.

O racismo velado

Cacá é um promissor jogador de futebol. Ainda assim, é um adolescente de 19 anos que está descobrindo a vida, para o bem e para o mal. Moralismo a parte, substancias ilícitas são comuns e causam curiosidade entre adolescentes e jovens de qualquer classe social. Seja o álcool e o cigarro, proibidos para menores de 18, sejam outras substâncias.

Diversos jogadores tiveram problemas com drogas nas mais diferentes fases da carreira. Cacá não foi pego em exame de doping nem chegou a cometer algum crime de maior periculosidade (tráfico, violência, assassinato). Ainda assim, foi comparado com outros jogadores que se envolveram em situações mais graves e teve o fim da carreira decretado por muitos nas redes sociais. Enquanto Cacá é condenado por uso de maconha, atletas como Cristiano Ronaldo – acusado mais de uma vez de estupro – e Dudu – que agrediu a esposa e a sogra- são tratados como ídolos.

A conclusão

Cacá tem 19 anos e um brilhante futuro pela frente. O ocorrido não diminui sua capacidade e o potencial que foi apresentado até aqui. Quem nunca errou que atire a primeira pedra. Quem já errou, escolha o primeiro negro para apedrejar. Cabe ao Cruzeiro prestar todo o apoio para o jogador e garantir que ele seja mais uma estrela na constelação de grandes nomes que fizeram história por aqui.

Por: Natalia Andrade

Referências

  1.   “cannabis” OED Online. July 2009. Oxford University Press
  2. https://nacoesunidas.org/nacoes-unidas-discutem-abordagem-policial-e-racismo-no-brasil/
  3. http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/anuario-brasileiro-de-seguranca-publica-2018/