Cruzeiro, antes de quebrar o silêncio, quebre a hipocrisia!


Na tarde de hoje, a Rádio Itatiaia noticiou a desistência do clube na contratação do atleta Juninho, que atualmente pertence ao Sport Clube Recife. Como torcedoras, registramos nosso apoio total a decisão do clube em não manchar nossa história com a contratação de um agressor de mulheres.
No dia 8 de março de 2017, o Cruzeiro surpreendeu com a genial campanha que, em parceria com a ONG AzMina, estampava os números da violência contra a mulher nas camisas dos jogadores em campo. Esta campanha recebeu um prêmio em Cannes, até então, extremamente merecido.
Carnaval de 2018. Novamente o Cruzeiro se posiciona contra o assédio comum na festividade, aderindo à campanha “Não é não” e divulgando o telefone 180 para denúncias de assédio e agressões.
8 de março de 2018. O Cruzeiro novamente se mostrou um clube engajado na luta contra a violência de gênero e, além de distribuir ingressos gratuitos para as mulheres, lançou a campanha #QuebreOSilêncio, em parceria com o Mineirão, na tentativa de incentivar mulheres vítimas de violência a denunciarem as agressões sofridas.
Ainda em março de 2018, semanas após a campanha e, ainda, no mês da mulher, começam a ser divulgadas notícias sobre o jogador Juninho, do Sport Recife, que teria despertado o interesse do clube. Mais um jogador para compor o elenco, algo comum, se não fosse a bagagem polêmica extracampo: Juninho tem registrados TRÊS boletins de ocorrência por agressão contra a ex-noiva. Uma das agressões foi inclusive filmada pelas câmeras de segurança do prédio onde o jogador residia.
“Há 20 dias teve uma agressão, quando chamei a polícia para ir no prédio, porém a pedido da família dele, de empresário, eu deixei a polícia ir embora e só fiz um boletim de ocorrência (…). Depois, pedi uma medida protetiva além do boletim de ocorrência e ontem nos encontramos numa mesma festa. Ele, depois de bêbado, me chamou para conversar no apartamento dele, onde a gente morava antes. Eu disse que sozinha não iria, aí ele me disse que, por segurança, levaria um amigo. Quando saímos do táxi, eu disse que não iria dormir com ele, só iria conversar. Foi quando ele me deu o primeiro tapa no rosto. Estou pedindo as imagens da câmera porque a câmera filmou isso. Quando chegou ao apartamento, ele me trancou, me bateu muito e disse que a única alternativa seria ou ficar com ele presa num apartamento, ou então me matar porque ele sabia que tinha me batido e perdido a carreira. Então, ele pegou uma faca. Só consegui escapar porque o amigo dele segurou, eu pedi socorro, uma vizinha chegou a ver, ligou para portaria e eu saí correndo” *Depoimento da vítima, que teve a identidade preservada.
Quantas vezes dizemos que “não é só futebol”? O futebol está inserido na sociedade, e mais que isso, serve de espelho para diversas pessoas, inclusive crianças, que veem em seus atletas uma imagem a se seguir. Resta saber qual a imagem o Cruzeiro quer resplandecer: a do time que luta por uma sociedade melhor no país em que uma mulher é agredida a cada cinco minutos, ou a do time que acolhe o agressor e utiliza as vítimas para ganhar aplausos e quem sabe, novos prêmios?
Não adianta apresentar números, falar que “não é não”, divulgar o telefone para denúncia e pedir às vítimas que quebrem o silêncio, enquanto se acolhe o agressor. Não adianta, Cruzeiro, se dizer ao lado da vítima enquanto se protege o agressor. Isso só faz com que seu discurso se transforme em hipocrisia, propaganda barata para preencher o vazio de uma data que representa a luta das mulheres por respeito e igualdade.
Mulheres são agredidas todos os dias, assediadas todos os dias – inclusive nos estádios -, assassinadas todos os dias. Mulheres merecem respeito todos os dias. Não adianta chamar a mulher para o estádio e deixar em campo a imagem de toda a violência que ela sofre todos os dias. Antes de quebrar o silêncio, quebre a hipocrisia, Cruzeiro.
Um jogador com esse histórico não deveria ser sondado nem no Cruzeiro nem em time nenhum. Violência contra a mulher é assunto de segurança pública e contratar um jogador com esse histórico é premiar o agressor. Nessa situação, a coerência venceu, torcemos para que não se repita e parabenizamos o Cruzeiro pela atitude responsável e justa. Seguimos na luta pelos direitos das mulheres dentro e fora dos estádios.
Mulheres de Arquibancada
Natália Andrade
Rafaela Freitas
Clara Maciel
Thamiris Figueiredo
Karina Helen Parreira de Oliveira
Isabelle Brandão Otoni
Marcela Vieira
Maria Clara de Almeida
Denise Carvalho
Rose Kelly da Luz de Jesus
Aline Medeiros
Débora Pragana
Jeovana Oliveira
Laila da Silva Almeida
Christiane Almeida
Giovana Marchezane
Ana Clara Costa Amaral
Luciana Debois
Maria Oliveira da Silveira
Jéssica de Lima
Gabriela Souza
Anna Cristina Soares Liberato
Ana Franco
Barbara Ezequiel
Bruna Rodrigues Silva
Kissyla Santos Pires
Ana Luiza de Oliveira Miranda
Luísa Pires
Fernanda Hermsdorff
Nádia Daian