Lá se vão 14 anos do gol arrebatador de Geovanni no Cruzeiro (e da chegada de Felipão)


Mineirão, 9 de julho de 2000, 20 minutos do segundo tempo, Cruzeiro 0 x 0 São Paulo. Na ponta direita, Cléber faz falta boba em Edu. Marcelinho Paraíba ajeita, dá pinta de que vai cruzar na área, mas chuta direto para o gol. André falha e deixa a bola entrar.

Um silêncio sepulcral toma conta do lado azul da torcida. Dali para frente, só vitória interessaria ao Cruzeiro. Empate em 1 x 1 daria o inédito título da Copa do Brasil ao Tricolor paulista.

Choro, inconformismo e desesperança na arquibancada. Afinal, poderia a virada acontecer nos 25 minutos restantes? Até poderia não fosse a soberania são-paulina na partida.

Aos 26 minutos, Alexandre, do Tricolor, avançou sozinho, com toda liberdade do mundo, para fazer o segundo… Mas errou, chutando na rede pelo lado de fora.

Aos 31, outra chance clara para os paulistas. Cruzeirenses da arquibancada fecham os olhos… Carlos Miguel lança Marcelinho Paraíba, que, livre, erra a finalização. O receio do torcedor àquela altura é por um vexame por três, quatro gols dentro do Mineirão, contra o mesmo São Paulo que um dia aplicou cinco lá.

O temor desaparece aos 35 minutos, quando Ricardinho dá passe para Muller, que, de costas para o marcador, faz o pivô e toca milimetricamente para Fábio Júnior. Recém-promovido no jogo, o atacante fuzila a rede de Rogério Ceni.

O choro cessa, o inconformismo some e a desesperança dá lugar à fé.

Os gritos de incentivo voltam a ecoar no céu da Pampulha. Em campo, o Cruzeiro é só ataque. O time tenta, o time luta, o São Paulo resiste.

Aos 42, a torcida esfria, esmorece. O esforço celeste, parece, não vai ser recompensado.

Eis então que Axel recebe a bola na esquerda e a recua para Rogério Pinheiro. Misericordiosa, cheia de compaixão com os cruzeirenses, a bola desobedece a ordem do passe de Axel e cai no vazio.

Agora, Geovanni e Rogério Pinheiro a disputam numa corrida que tem a mira de mais de 85 mil torcedores. Silêncio, apreensão, quem há de chegar primeiro nela, na bendita bola?

Geovanni chegou. E só não parou na rede são-paulina porque foi parado com falta pelo zagueiro. Expulsão, catimba, enrolação… A falta, quase em cima da linha da grande área, leva uma eternidade para ser cobrada, eternidade no jogo que o Cruzeiro não tem.

Muller vai a Geovanni e volta. Dá ordens para que o chute não seja alto, mas, sim, forte e rasteiro.

Geovanni corre, o estádio emudece outra vez, ele chuta e, numa fração de segundo, o silêncio absoluto dá lugar ao barulho de um trovão. É o grito de gol. É o choro do título. É a certeza de que a história estava sendo escrita em mais uma página heroica.

Fim de jogo? Nada! Antes do apito final, o pecado de André e Cléber, no lance do gol de Marcelinho Paraíba, precisava ser pago.

E foi assim que a graça sobreveio a eles: Fabiano limpou Cris da jogada, centrou na área e Marcelinho Paraíba, livre dentro da pequena área, sem goleiro, testou. André, voltando, deu um voo em busca da defesa. Defendeu. No rebote, em cima da linha, Clebão aliviou o perigo como uma isolada à la ele, Clebão.

Não demorou para o apito final soar, a festa começar, a taça ser erguida, os heróis se abraçarem, a torcida orgulhar-se, mais uma vez, de ser Cruzeiro.

E lá se vão exatos 14 anos disso tudo.

Como o tempo voa… Voa e tira sarro da nossa cara. Afinal, alguém se lembra qual foi a outra a outra comemoração daquela noite?

O anúncio da chegada de Felipão ao comando técnico do Cruzeiro, amigos. O mesmo Felipão que ontem fez lambança à frente da Seleção.

Ah, o tempo…

Por: Anderson Olivieri – Viste o Blog do Olivieri