O melhor emprego do mundo


Imagine você, no seu trabalho, não ser cobrado. Mais do que não ser cobrado, ter uma legião de pessoas defendendo suas atitudes, corretas ou não. Você nunca está errado. Se alguém te criticar, esta pessoa é um ser humano do mal, que não é temente a Deus, que não respeita sua história. Reitero, você sempre está certo, inclusive quando optar por não fazer o seu trabalho. Ninguém terá o direito de questionar sua santa presença ou ausência. Você já terá sim, feito um bom trabalho no passado. Mas no presente, não há obrigação alguma. É permitido levar a vida no piloto automático, acomodado. Ah, e quando seu contrato acabar você tem todo o direito de pedir um aumento bem considerável. E se hesitarem em aceitar suas pedidas, uma legião ficará a seu lado. Injustiça não valorizarem seu esforço, não é mesmo?

O futebol é um esporte realmente admirável. Ele permite cenários como o descrito no primeiro parágrafo. Confesso que meu desejo seria escrever o texto com o título “o pior goleiro do Brasil”. Mas isso soaria falso e sensacionalista demais, coisas que um torcedor e jornalista deve se policiar para que não aconteça. Portanto, exaltar o melhor emprego do mundo é mais adequado. Se você não compreendeu quem é o homenageado do dia, falo de Fábio. O camisa 1 do Cruzeiro, o homem que mais vezes entrou em campo com a camisa celeste. Um ídolo? De parte da torcida sim. De outra parte (a qual faço parte), não. Mas isso é história para um outro momento. A intenção aqui é mostrar que a corneta não soa ao léu.

Vamos analisar o retrospecto dos últimos cinco anos do camisa 1 com dados de um confiável site de estatística, o Footstats. Não se trata de números de “defesas difíceis”, porque este é um critério extremamente subjetivo. São defesas, finalizações que o goleiro catou, puramente assim. Podemos ver pelo quadro anexo como o desempenho do goleiro vem caindo consideravelmente nas últimas temporadas. Em 2013, considero que Fábio esteve em seu melhor momento pelo clube. Foi um dos principais nomes para a conquista do título brasileiro, sendo o quinto goleiro que mais fez defesas no Brasileiro daquele ano. Foram 116 em 36 jogos. Desde então, considero que seu desempenho tem despencado vertiginosamente. E os números não me contradizem.

Footstats Fábio

Portanto, a impressão de que “tudo que vai no gol entra” é falsa, mas justificável. Se em outras épocas eram necessárias quase cinco finalizações para superar o goleiro, atualmente a cada 2,48 chutes, todos nós entramos em desgraça. E um dado a se ressaltar é ver como a zaga cruzeirense permite menos finalizações hoje do que em tempos passados. Fábio não está desprotegido na maior parte do tempo, ele que deixou de ser um goleiro confiável. Sua condição física, aparentemente, não é a ideal. Não precisamos ser preparadores físicos para saber que sua forma tem aparecido bem mais rechonchuda que outrora.

Sendo bem sincero, eu sou um crítico do Fábio e não nego. Desde 2009, mais precisamente, eu tenho uma postura cética quanto ao goleiro. Critico ferozmente nas falhas e elogio quando ele faz bem o seu trabalho. Não me sinto na obrigação de ser eternamente grato a um jogador que nunca conseguiu realizar feitos como os de Dida na Copa do Brasil 96 e Libertadores 97. O meu padrão de exigência para goleiros é alto, eu quero alguém que morra para defender o meu time. E abomino golpes de vista como o que nos custou dois pontos contra o Vasco. Eu respeito o Fábio e sua história, mas isso não pode significar que ele passe incólume às críticas. A postura de que ninguém pode falar mal dele é uma das principais razões para essa irritante acomodação.

Não exijo que o Fábio faça defesas de Gordon Banks, tampouco que ele seja um monstro como foi Dida. Fico feliz se ele se cuidar adequadamente como um jogador de futebol precisa, mostrar uma condição física como a de 2013, por exemplo, e tentar defender as bolas. Nenhum goleiro vai pegar todas, mas ele precisa tentar. Não é ser um artista circense, é buscar a defesa, sempre. Nunca vou abrir mão disso em um jogador, tentar. Não brado pela saída de Fábio, até por estar convicto que ele vai renovar. O meu grito é pela melhor versão que ele puder apresentar. Que trabalhe no limite, que defenda nossas cores. O texto acaba aqui, espero que as falhas do Fábio também. Podem começar a digitar impropérios contra mim. Assim como pular na bola, eu sei que faz parte do jogo.

Por: Emerson Araujo