O preço da gestão do elenco


Há quanto tempo não vemos um grande período de má fase no Cruzeiro?

Puxando pela memória, consigo me lembrar justamente do período pré-retorno de Mano Menezes, com Paulo Bento. Período de excelentes apresentações, porém com péssima entrega de resultados. Mas tanto tempo de estabilidade se deve ao quê, exatamente?

Itair Machado, em entrevista no início do ano, disse que torcedores e jornalistas conheciam o Mano treinador, não o Mano “gestor”; Mencionando que o gaúcho é um dos melhores neste quesito. Mas a gestão do grupo por si só, basta?

Em 2017 nossa principal dupla de zaga, Léo e Murilo, se encaixou muito bem na reta final da temporada. A deficiência de um era compensada pela eficiência do outro, e assim caminhamos rumo ao título da Copa do Brasil, com uma defesa bastante sólida. O mesmo pode-se dizer do meio campo, termômetro do time. Com a dupla de volantes mais constante sendo composta por Hudson e Henrique, conseguimos manter uma boa consistência defensiva na parte central do campo, para segurar a onda dos meias e atacantes. Sem contar com nosso ex-lateral esquerdo que se lançava ao ataque constantemente.

Hudson foi importante em uma fase decisiva do ano, ameaçando a titularidade absoluta de Ariel Cabral para 2018. Com maior poder de combate e com os desarmes bem afiados, nosso ex volante compensava a deficiência de Henrique em tais características, que, por sua vez, tinha saída de bola um pouco mais “testada” que Hudson.

O problema é que Hudson não é mais nosso jogador, e nossos zagueiros titulares em 2017 vem falhando constantemente este ano. E nos jogos mais importantes da temporada até então.

Ariel Cabral pode ter um passe refinado. Léo e Henrique podem ter sua liderança no elenco. Murilo pode chegar muito longe na carreira. Mas hoje, em minha opinião, eles não reúnem condições de serem titulares no Cruzeiro.

Mas calma, não estou pedindo uma reformulação em nosso time titular. Talvez a mudança de uma ou duas peças possam nos trazer uma outra consistência dentro de campo. Mas isso não vem ao caso agora.

O fato é que tais jogadores vêm jogando com regularidade pelo futebol que já mostraram em algum momento.

Mano Menezes realmente sabe controlar muito bem as ambições de um elenco, pregando sempre uma coerência nas escalações. Mas essa tal coerência é no mínimo subjetiva, uma vez que vem unicamente da cabeça de nosso treinador.

Eu, por exemplo, imagino que seja mais coerente dar sequência a um jogador que, de maneira geral, esteja em melhor fase este ano. Caso do Dedé. Imagino também que um trio de “volantes” composto por Henrique, Ariel Cabral e Robinho deixe nossa defesa muito vulnerável, como não era ano passado com a presença do Hudson. Imagino ainda que seja mais coerente a escalação de uma defesa mais forte na bola aérea, quando o adversário tem este tipo de jogada como um ponto forte.

Samuel Venâncio não respondeu ao questionamento do Mano sobre a eficiência da bola aérea do Léo, no último jogo, mas eu respondo por ele: o Léo é até bom neste tipo de jogada sim, mas o Dedé é melhor. E se tratando de um jogo de tal importância, creio que todos queremos nosso time com força máxima.

Mas qual seria a solução para este imbróglio? Simplesmente o Mano deixar suas convicções de lado e mudar a escalação de acordo com as fases de cada jogador, ou continuar com sua “coerência”, gerindo os anseios e insatisfações do elenco, como faz com excelência?

Queremos um time cujas melhores opções são sempre escaladas, de acordo com o momento de cada um, com maior eficiência em campo, mas com maior risco de crises internas? Ou queremos um elenco harmonioso e coeso, beliscando um resultado positivo aqui, e outro ali, com chances de títulos quando der e menor risco de crise interna?

Vai do gosto de cada um, mas em ambos os casos nós temos que pagar um preço.

Por: Luciano Batista

Foto: Site oficial.