Sem razões para sorrir


O título resume o ano de 2015 do Cruzeiro Esporte Clube. Encardido, carrancudo, feio, desinspirado, triste. Os primeiros sete meses do ano não trouxeram nenhum alento para nós, torcedores celestes. Nós que terminamos 2014 tão animados, ansiosos pela chegada de reforços que pudessem qualificar ainda mais a azeitada máquina Azul que nos traria o título da Libertadores. Pois o cenário atual é terra arrasada, sem grandes perspectivas. Meu grande objetivo na temporada é terminar o Brasileiro em uma posição tranquila na metade de cima da tabela. A questão é, desde quando o atual bicampeão brasileiro pode se resignar a isso?

Desde que tudo foi desmantelado pela diretoria por razões injustificáveis. Essa é a minha resposta preferida. No momento, todos estamos órfãos. De dirigentes, comissão técnica e jogadores competentes, comprometidos. A suposta busca incessante dos Três Patetas por um meia virou novela mexicana, daquelas da pior qualidade. E nessa ladainha, vamos perdendo tempo e mascarando os reais problemas da equipe. Não tem meia que conserte a ridícula montagem do elenco, onde quatro atacantes disputam uma única vaga. Outro ponto é a má vontade de uma série de jogadores em seguir vestindo nossa camisa. O difícil, infelizmente, é listar o que tem dado certo.

A nossa grande esperança passou a residir em nomes que até então nem eram cogitados por aqui. Precisamos muito que Vanderlei Luxemburgo faça a mágica que deu certo há treze anos atrás: planejar e executar com competência a montagem de um time de verdade, forte e campeão. Se alguém não lembra de sua primeira passagem, Luxa pegou o Cruzeiro em 2002 vindo de uma eliminação do seu Palmeiras para o poderoso Asa de Arapiraca na Copa do Brasil. Chegou e demorou a achar um time, experimentando muito. Trouxe jogadores questionáveis, apostou, mas achou um time na reta final do certame. Não se classificou para o mata-mata por detalhes e manipulações de resultados na rodada derradeira. O planejamento seguiu e deu os frutos que todos sabemos em 2003.

Naquela ocasião, o Cruzeiro tinha um elenco tão mal formado quanto o atual, mas com mais talentos individuais e uma espinha dorsal interessante. Jogadores como Cris, Luisão, Wendell, Alex, Fábio Junior e Marcelo Ramos estavam presentes e garantiam um bom nível técnico. No entanto, atletas como Paulo Miranda, Fernando Miguel, Vander, Quintana, Joãozinho, Lucas e Leonardo jogavam a balança para baixo. E para apontar uma similaridade, também vinhamos da perda de jogadores importantes como Sorín, Jorge Wagner, Ricardinho e Edílson. Luxemburgo fez um excelente trabalho ali, fazendo reparos e “consertando o avião em pleno voo”. Resumo da ópera: tá ruim, mas tem jeito. Dá pra fazer muito mais com o material humano que temos disponível hoje na Toca da Raposa.

Nosso atual treinador foi o primeiro brasileiro a entender e dar o devido valor para o planejamento. Suas tentativas de elaborar um projeto nunca mais fluíram tão bem, com exceção para o Santos em 2004, e viraram piada. Mas precisamos de um resgate da melhor versão de Luxemburgo para fazer essas peças darem liga e ver as engrenagens de um time funcionando de forma minimamente razoável. O Cruzeiro hoje é um catado de jogadores que não inspira confiança para bater nenhum adversário, mas também pode surpreender e triunfar sobre qualquer oponente. É uma imensa incógnita que precisa ser colocada nos trilhos para que fechemos 2015 sem sustos e, com muita humildade e trabalho, possamos ter um 2016 bem planejado e vitorioso.

Por: Emerson Araujo