Um dilema chamado Fred


Desde que Frederico Chaves Guedes deixou o Cruzeiro rumo ao Lyon, em agosto de 2005, seu retorno é especulado e aguardado por grande parte da torcida. De fato, sua passagem pelo clube foi rápida, mas muito marcante. Se pesa negativamente não ter conquistado nenhum título, nem mesmo o Mineiro (perdido em decisão contra o Ipatinga), os seus números provam que a passagem foi sensacional. Foram 56 gols em 71 aparições, com média de 0,79 gol por partida. Considerando apenas o ano de 2015, onde atingiu seu ápice, foram 43 jogos e 40 gols. Algo absurdo para qualquer atacante atuando em solo brasileiro.

O tempo passou, Fred ficou três anos e meio no clube francês, oscilando bastante e sem se firmar. No início de 2009, em litígio com o Lyon e com o contrato expirando em poucos meses, foi liberado para negociar com clubes brasileiros e preferiu acertar com o Fluminense, clube que lhe fez a melhor proposta financeira. O Cruzeiro também o queria, negociou mas não atingiu a pedida do camisa 9. Uma decisão profissional e, convenhamos, não há nada de errado nisso. Sete anos depois, aí está ele novamente brigando com o seu clube e disponível no mercado. Agora, um centroavante já tarimbado, com duas Copas do Mundo nas costas, 32 anos de idade e 90 kgs (segundo sua assessoria).

Alguns podem interpelar que Fred é torcedor do Cruzeiro (como já falou em algumas entrevistas) e não comemorava os gols marcados contra o clube da Toca (tradição que o atacante abandonou em 2013, na vitória por 1 a 0 no Maracanã). Alguns se sentem traídos por ele não ter voltado para cá e muitos consideram um absurdo que o jogador assine com o Atlético-MG, ou ao menos cogite isso. Gostaria apenas de questionar o bom senso de cada um que lê este artigo: você acredita realmente que Fred é cruzeirense só porque ele disse isso em algum momento? Lembram dele falando com tom de indignação que havia sofrido pênalti contra a Croácia em 2014? Pois é, pense bem na resposta. Mas, independente disso, combinemos: condições para dar um retorno técnico, ele tem. E para qualquer clube do país.

O grande dilema da “questão Fred” reside no seguinte ponto: mesmo que eu não deseje vê-lo no clube rival, e isso se deve principalmente a sua capacidade de fazer gols, eu confesso que também não gostaria muito de vê-lo de volta ao Cruzeiro no atual momento. Minha impressão é de que estamos extremamente comprometidos financeiramente, e que um investimento alto, como o necessário para trazê-lo, poderia se transformar em um imenso tiro no pé. Afinal, Fred sai do Fluminense por entrar em rota de colisão com o treinador, é uma pessoa temperamental, convive com recorrentes problemas físicos e necessita que o time seja montado à sua volta. Sem falar no salário exorbitante…

Não confio em Willian para ser homem gol nem do meu time de pelada. Também não acho que Rafael Silva seja um jogador regular o suficiente para passar credibilidade no comando de frente. Douglas Coutinho jogou pouquíssimo, também não dá pra confiar. Até por isso, Fred (e seus trezentos e poucos gols na carreira) poderia ser uma boa aquisição, caso aceitasse um salário mais condizente com seu atual momento, sua idade e o mercado a que está inserido. Fazer loucuras por ele, definitivamente, não vale a pena. Até porquê há menos de dois anos, ele era chamado de CONE a cada esquina pelo seu pífio rendimento na Copa do Mundo. Eu espero, sete vezes, que ninguém tenha se esquecido disso.