Um pouco além do clássico…


Foi de tirar o fôlego!

Pegada, polêmicas, confusão, tensão, gols e muito mais. Acima do placar, vale a ressalva de que Cruzeiro e Atlético fazem sim o clássico mais emocionante e imprevisível do futebol brasileiro. Já há alguns anos as duas equipes protagonizam os melhores duelos estaduais de todo o Brasil. Ponto para o ainda claudicante futebol mineiro.

Ao amigo leitor, um comunicado: não pretendo me prender ao embate em si; a análise já se encontra aqui no Guerreiro dos Gramas e foi feita com primazia no programa “Guerreiros em debate” na rádio GDG, que teve a participação especial de Marcelo Ramos. Em contrapartida, quero trazer alguns pontos que clamam atenção. Urgente.

Questionar a atual arbitragem brasileira tem sido chover no molhado. A atuação do árbitro Nielson Nogueira Dias foi horrorosa em diversos aspectos, afetando tanto Cruzeiro quanto Atlético. Nada adianta a nós, torcedores, reclamarmos que fomos prejudicados somente. Sejamos coerentes em enxergar que também houve o lance em que fomos favorecidos, com o início faltoso da jogada do segundo gol celeste. Mesmo assim, Dias foi capaz de inverter diversas faltas de fácil marcação e amarrar a partida para o outro lado. A qualidade geral do quadro de árbitros e assistentes da CBF vem provando-se degradante durante toda a temporada, e o que vemos em campo são apenas os expoentes de uma crise ainda pior. São muitas as pessoas despreparadas que assopram os apitos e levantam as bandeiras no futebol brasileiro, e sem medidas de profissionalização – presa às questões previdenciárias – melhorias e claro, isenção, um dia ou outro seremos afetados mais uma vez, para o bem ou mal.

O Cruzeiro, na sua limitação já conhecida, foi o que poderia ser. Correu, marcou muito, buscou o jogo da forma que pôde e não me surpreenderia se tivesse alcançado a vitória. Em clássico, a camisa pesa mais que a fase. Diante de um adversário de qualidade, a equipe se portou bem. Achei que a defesa oscilou pouco, com Léo anulando Bernard mais uma vez, além de uma boa apresentação de Éverton, que tanto critico. O meio também lutou como pôde, teve pegada e Montillo se movimentou bastante buscando as jogadas. Só não compreendo a função e o porquê de Tinga na equipe, já que ele contribui pouco em todas as fases do jogo celeste. Senti a costumeira fragilidade no ataque, com Borges lutando sozinho entre os zagueiros atleticanos. Apesar do gol, Wallyson pouco fez durante a partida.

Conforme disse ao leitor, vou me abster de uma análise mais profunda da partida em si. Trago pontos que precisam ser dirigidos:

1-    Arremesso de objetos no gramado

Vexatória a sandice que alguns torcedores cometeram domingo. Como é possível, mesmo que no mais inquietante acesso de raiva, alguém achar cabível lançar copos d’água, chinelos, celulares e bolo(!) no gramado?! Quem, além da própria torcida e principalmente o Cruzeiro pagará por isso? Ninguém.

É de uma ignorância abissal o que foi visto domingo. O Cruzeiro certamente perderá mandos de campo, tendo que jogar fora de BH quando mais precisará da torcida. Por ser reincidente, acarreta risco de punição ainda mais severa. É tanto disparate que eu mesmo testemunhei o arremesso de um chinelo em direção à meta que era defendida pelo Fábio, ou seja, lançam tais objetos pelo simples ato de lançar, sem a mínima sinapse prévia. É cada vez mais necessário utilizar a tecnologia para identificar e punir essas pessoas de forma exemplar. É lamentável ver o nome da nossa torcida vinculado a tal episódio. Resultado final: 2×2 no placar, ninguém identificado, o Cruzeiro pagando e vejamos no que se traduz isso em matéria de pontos na tabela.

2-    Comportamento da diretoria

Sou defensor da pressão ao rival e ao juiz feitas pelas arquibancadas, xingando e hostilizando. Também apoio uma diretoria enérgica e atuante em prol do clube. Mas dentro de campo, é lastimável que dirigentes de um clube sério como o Cruzeiro invadam vestiário da arbitragem, adentrem o gramado em surtos e façam ofensas públicas a quem quer que seja. Tudo isso demonstra destempero e amadorismo. Taxativo, julgo não haver justificativa: mesmo com o jogo complicado pela arbitragem, agir como dirigente de time de futebol society amador não condiz com o tamanho do Cruzeiro. Existem outros meios de pleitear justiça, punição e cobrança. Mas de forma alguma esses meios devem envergonhar o escudo da instituição que se carrega no peito e paga seus salários. Uma senhora pisada na bola.

3-    Polícia Militar e torcida única

Testemunhei cenas lamentáveis protagonizadas pela PM. Houve foco de confusão ainda na Av. Silviano Brandão entre torcidas organizadas, que parece ter sido controlado. Porém, tanto dentro como fora do estádio, houve excesso de força. Na altura do portão três foram lançadas bombas de gás em meio a torcedores que aparentemente não causavam confusão e transitavam por ali. Eclodiu-se então um alvoroço e correria, fruto de mais uma intervenção desnecessária. Escutei relatos de algumas pessoas machucadas. Nas arquibancadas, a Polícia parecia querer coagir os torcedores. Alguns policiais empurravam e hostilizavam, utilizando de força e uma corda que é colocada no limite das arquibancadas. Ao final da partida, mais confusão no fluxo de saída. Força desmedida e confronto impediam a passagem das pessoas por longos minutos. Havia pessoas passando mal e ao invés de facilitar a situação, parecia ser interessante segurá-la caótica como estava. Isso tudo com triste fator da torcida única.

Se a Polícia havia dado o recado à sociedade de que não seria capaz de protegê-la de forma eficaz, caso tenhamos as duas torcidas, ter apenas uma também não tem sido um mar de rosas ou solução.

4-    Comemorar empates

Não culpo nem desculpo quem assim se comportou. O Cruzeiro é sabidamente uma equipe limitada e enfrentou o maior rival em um momento atipicamente irretocável. Mas é complicado comemorar o empate. Era uma partida importante, que clamava por uma vitória celeste. Tomar a virada foi determinante, ainda mais que, minutos antes Pierre acabara de ser expulso. Era o momento de ter a bola no chão como vinha fazendo e partir para cima, com tranquilidade e não sair afoito, deixando a brecha para o contra-ataque. Repito: apesar da limitação, não dá para se contentar com o empate. Se o Cruzeiro não acha o segundo gol, perderíamos de virada um jogo que jogamos para ganhar. Comemorar empates é simbólico a celebrar a não derrota da sua equipe sem pensar na chance de vitória. Contra qualquer adversário que seja.

O clássico deverá render mais alguns episódios durante a semana e outros desdobramentos futuros, principalmente para o lado celeste. Mas o mesmo tem data e hora para acabar: quarta-feira no Serra Dourada, às 22hs contra o Atlético Goianiense. A vitória que não veio se faz ainda mais imprescindível no atual momento celeste. “Liderar o campeonato é uma coisa. Ganhar do Maior de Minas é outra.”

Nesta segunda, AO VIVO, às 21hs00min, o programa Guerreiros em Debate repercutiu tudo que rolou no clássico, e ainda recebemos o ídolo Marcelo Ramos para um bate papo sobre a sua brilhante história no Cruzeiro, e também sobre a campanha que a China Azul faz para conseguir um jogo de despedida para o Flecha Azul.  Já assinou a petição? Petição #DespedidaDoFlechaAzul

Foto: VipComm