O Cruzeiro que nós somos


Eu tinha várias piadinhas prontas depois do “clássico” de domingo passado, mas fiquei com tanta preguiça de chutar cachorro morto desde 1971 que só usei uma nas minhas redes sociais, ironizando o hino deles. Uma oportunidade de não perder a piada, mas manter os amigos atleticanos. Somente para confirmar o que eu tinha dito na coluna passada: título mineiro, para mim, é válido somente para evitar foguetório e mimimi de segundino que curte as derrotas do Cruzeiro em competições das quais o Atlético Mineiro não participa e que acha que tem rivalidade ainda nesse estado.

O Cruzeiro que nós somosFicou provado em 15 de maio que isso não é verdade.

E o título mineiro, se não lavou nossa alma – mas pelo menos garantiu a tranqüilidade auditiva –, serviu para dar certa estabilidade ao time no campeonato brasileiro. Porque é ISSO que vale. Eu sempre defendi que campeonato estadual é uma grande perda de tempo e um imenso roubo de oportunidade àqueles times do interior que poderiam usar essa competição de trampolim, mas não conseguem aproveitar a chance simplesmente porque não existe comparação de estrutura entre eles e os ditos “grandes”. E ver o Cruzeiro ganhar essa competição e não jogar na quarta-feira pela Libertadores não me traz alegria nenhuma. Fui à Alligator´s Arena, gritei, torci, cantei e fiz até promessa, mas não era porque aquilo era uma final de campeonato mineiro; é porque eu nunca vou me satisfazer com uma derrota do meu time. E estando ele em qual competição estiver, esperarei que vença.

Mas o que passou, passou e a hora é agora. Infelizmente, o nosso foco é todo no brasileiro. Digo “infelizmente” porque bate até uma dorzinha no peito por lembrar que a velha polêmica de “vamos ou não priorizar a Libertas em detrimento do brasileiro?” não estará presente nas discussões dessa semana. Mas a cabeça tem que estar erguida para conquistar o maior título de expressão do Brasil, reviver a conquista de 2003 e correr para o abraço.

O campeonato começa em 2011 com a certeza de que esse caneco tem tudo para ser nosso. Serão 19 adversários em um ano de trabalho, mas o Cruzeiro provou domingo, mais uma vez, que seu principal adversário é ele mesmo. E que quando entra para vencer, a torcida não precisa pedir raça, porque isso o time tem de sobra. Tem talento, tem raça, tem vontade, tem técnica… e até a posse de bola estilo Barcelona (para não perder a oportunidade de fazer, talvez, a última comparação), com mais de 70% de superioridade, por assim dizer, o Cruzeiro tem, quando quer. Quando não quer, não tem São Fábio que faça milagres. Ah, mas quando quer… quando quer, tem tudo. Porque o próprio Cruzeiro já é tudo.

O jogo do último domingo também serviu para mostrar que nossa zaga não é da maior estatura, e que já tivemos zagueiros até maiores, mas que resolvem, vez ou outra, mudar de time para sagrar-se vice-campeão. Mas nossa zaga é fera. Lembro como se fosse ontem de várias lambanças Gilzescas a ocorrer gramados sul-americanos afora, mas, no último “clássico”, ele brilhou. Foi um zagueiro perfeito, principalmente no que se refere a  (Dilminha feelings) tirar a bola do adversário de maneira lúcida e sem fazer faltas. Gil comemorou cada cortada como se fosse um gol. Fora Victorino, que também esteve lá para salvar a pátria quando essa precisava ser salva. Afinal, a regra é clara, Arnaldo. Um pênalti, por exemplo, ou uma chance de gol à queima roupa, sempre será responsabilidade do atacante. Mas quando se tem um bom goleiro e um bom zagueiro para evitar o pior, ele de fato não acontece. No jogo passado, nem todo mérito da lambança atleticana é de Magno Alves (mas se fosse aqui no Cruzeiro, meu amigo, era demissão por justa causa!). São Fábio e Victorino foram grandes responsáveis por jogar água no chopp do Magnata, que de Magnata tem só o apelido, e aposto que bebe Skin dia de domingo.

Ouvi dizer por fontes alternativas que nosso meio campo se dissolverá ainda nas primeiras rodadas do Brasileiro, com alguma(s) baixa(s). Mas no meu conceito cruzeirense ele está é muito bom e ficará melhor com Fabrício adquirindo ritmo (se não for, ele mesmo, uma das baixas… cenas do próximo capítulo). Um atacante de referência ainda é bom, viu, Perrelitos. Mas acho que na hora do pega para capar nossa dupla atual ainda dá certa segurança ao objetivo. E a orquestra ficar toda afinada pela regência de um argentino matador é apenas uma questão de tempo. E, em campeonato de pontos corridos (onde o merecimento se sobressai à sorte, se não houver juiz fanfarrão), temos tempo.

Enfim, agora é hora de lutar pelo que interessa. E o que interessa, desse nosso lado, é continuar acreditando! Durante a semana passada, ouvimos muito, fomos muito zoados, e, abatidos pela derrota da semana que realmente significou algo, esperamos, com muita alegria, o jogo derradeiro do campeonato de Minas. A gente sabia que a vitória seria nossa, que bastava “meio” gol, embora quisessemos mais – mas o Cruzeiro tem que me deixar triste e fazer somente dois quando poderia ter feito cinco e mantido a tradição. (Notificação aos desavisados: a frase anterior constitui uma “ironia”.)

O torcedor cruzeirense às vezes me irrita com sua vontade incólume de cornetiar o que não deve, mas se tem uma coisa que eu gosto demais nessa nossa torcida é que, na hora de acreditar, acreditamos mesmo. E, mesmo quando o resultado não vem, acreditamos. Não conformamos, é verdade. Mas sabemos do que o nosso time é capaz, sabemos que a vitória está logo ali na frente, acreditamos no Sobrenatural de Almeida e sabemos que a justiça, pelo menos futebolística, tarda, mas não falha. E é esse acreditar sem se conformar com pouca coisa é que nos diferencia de outros torcedores por aí.

Sabemos que, em Minas, não prevalece outra cor que não o azul, e agora está mais do que na hora de expandir nossas fronteiras celestiais. Você sabe que seu time pode perder até uma batalha, mas a guerra é longa, talvez infinita, e que a luz lá no fim do túnel é de uma estrela da sorte que se divide em cinco. Você sabe bem que quem ri por último, definitivamente, é quem confia nelas. E eu sei, de cor e salteado, que eu sou Cruzeiro. E meu sentimento não vai parar.


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