O espetáculo da bola


No teatro chamado futebol vários são os atores que encenam essa peça. Os principais são os atletas, mas dependendo das circunstâncias dividem a atenção com árbitros e torcida (essa é minha turma). Outros não aparecem tanto, trabalham nos bastidores , são médicos, massagistas, roupeiros, nutricionistas e outros profissionais que vivem no anonimato e, muitas  vezes, depende deles o sucesso do espetáculo. Tem ainda os donos da Cia e seus parceiros, dirigentes e patrocinadores. Para fechar a escalação dos stakeholders desse meio, temos os críticos de arte ou, simplesmente, a mídia e seus especialistas.

Foto: VipCommO Campeonato Brasileiro 2011 começou e com ele alguns desses artistas já chamam a atenção. Equipes apontadas como possíveis rebaixadas ganham, algumas apontadas como favoritas ao título perdem ou empatam e as incógnitas, com desconfiança de muitos, ganham. Está servido o banquete para os apocalípticos de plantão (cronistas e torcedores) surgirem como verdadeiros carrascos, com seus machados nas mãos, prontos para decaptar os “culpados” pelos fracasos de suas apostas, mesmo que esses fossem há dois dias atrás os condutores do estandarte da glória.

Foi simplesmente a primeira rodada da competição e tem torcedor acabando com o Cruzeiro por causa da derrota. Também não gostei do resultado, mas não creio que essa será a toada do time na competição. A equipe tem algumas deficiências sim, falei sobre isso no início da temporada, antes da bola rolar, e fui criticada por alguns torcedores. Em março fiz outro texto falando sobre falhas que enxergava no time, que são as mesmas até hoje.

O óbvio é que o time tem limitações que devem ser corrigidas para poder buscar o título. Acho inadmissível um clube da grandeza do Cruzeiro ter que improvisar jogador em algumas posições. Desde o início do ano, quando Cuca resolveu dispensar Rômulo e encostar Diego Renan, que o time vem jogando com as duas laterais improvisadas. Outra atitude do técnico que discordo é colocar Gilberto na lateral, apesar de ser sua origem, porque há alguns anos ele é meia e rende melhor nessa posição. Mas parece que o treinador não quer desagradar Roger, que não vem jogando bem, e sacrifica Gilberto. 

É fato que a torcida do Cruzeiro espera há sete anos por um título para comemorar e perdeu a paciência com essa diretoria que monta equipes que apenas participam da competição, com excessão de 2010, onde brigou até a última rodada pela taça. Mas daí a chamar o time de lixo como li em algumas redes sociais é muito para minha inteligência. Crucificar Fábio por uma falha que todos os goleiros cometem (sim, todos os goleiros que têm as bolas ao alcance das mãos preferem socar em vez de agarrar, essa é a falha e não o gol) também é um exagero.

Foi apenas a primeira de 38 rodadas da competição. Muita água vai passar por baixo da ponte. Muitos protagonista e antagonistas vão subir ao palco. Assim como muitos árbitros vão ser execrados, dirigentes vão fazer o papel do palhaço, comentaristas vão ser derrubados por quem de fato é responsável pela cena principal do espetáculo e o torcedor, que em tempo de redes sociais também é “comentarista”, vai mudar de opinião muitas vezes (provavelmente eu mesma), como os profissionais da palavra que, assim como nós, não têm competência para assumir o papel principal e se contentam em ser coadjuvantes.