Gilvan e Perrella deixaram no Cruzeiro um passado de sucesso que ainda cobra seu preço (com juros)


Zezé Perrella, que é o atual presidente do Conselho foi um dos que votaram a favor do plano de captação de R$ 300 milhões através de empréstimo internacional. Logo após a eleição da chapa comandada por Wagner Pires, Zezé se tornou crítico da diretoria; o que já fazia durante a gestão de Gilvan de Pinho Tavares; que chegou a declarar que Perrella não fazia nada além de criticar; deixando inclusive de cumprir obrigações como conselheiro do clube, faltando a várias reuniões do Conselho.

Gestão Perrella

Os últimos anos da gestão de Zezé são fundamentais para entender como o Cruzeiro chegou na atual situação financeira, tão delicada. Nos últimos 5 anos de seu mandato, as despesas do clube aumentaram gerando déficit de forma consecutiva; crescente a cada ano. A situação já era alarmante, a ponto de precisar vender jogadores às pressas no ano de sua saída pra pagar dívidas e salários.

Gilvan Assume

Mesmo assim, quando Gilvan assumiu, o clube estava com R$ 120 milhões de dívidas, duas folhas salariais em aberto; premiações atrasadas desde o Campeonato Mineiro. Além de um fator que puxava as finanças para baixo: o Mineirão fechado para reforma. Para se ter noção do quão prejudicial era essa situação, a renda média dos jogos fora de BH era de R$ 100 mil; valor menor do que a taxa de administração que o Cruzeiro paga por jogar no Gigante da Pampulha.

Além das dívidas, Gilvan pegou um elenco envelhecido, com jogadores em sua maioria medianos, que brigaram contra o rebaixamento em 2011; e voltariam a brigar em 2012. Sem caixa algum, montou o time com trocas e empréstimos, além de vender fatias de jogadores para pagar salários. E assim o então presidente fez na maior parte da sua gestão, tendo em seguida dois anos de exceções.

Biênio de conquistas

Em 2013, munido pelo dinheiro da venda do meia argentino Walter Montillo; montou com apenas R$ 30 milhões e um Alexandre Mattos, um elenco campeão. A volta do Mineirão ajudou a manter a folha salarial em dia, com a renda anual subindo de R$ 11 para R$ 60 milhões com bilheteria.

Apesar de vitorioso, Gilvan deixou um legado de dívidas ao Cruzeiro Apesar de vitorioso, Gilvan deixou um legado de dívidas ao Cruzeiro

Mas o time bicampeão Brasileiro teve um custo alto. A folha salarial chegou a marca de R$ 14 milhões mensais, e mesmo com as vendas em 2014; não havia dinheiro pra pagar as dívidas; que nessa altura, marcavam R$ 230 milhões.

Saúde financeira x Resultados

A outra exceção foi 2016. O Cruzeiro iniciou o ano com um planejamento de usar garotos da base, recheando o time de jovens; curiosamente de maioria chamados Bruno. Pra facilitar a visibilidade desses garotos, depois de um fracasso em experimentar um auxiliar como técnico, trouxe um treinador europeu, o português Paulo Bento; com a intenção de facilitar a evolução e atrair novos olhares do velho continente. Mas foi um desastre.

O time sentiu falta de peças de peso, e os garotos foram queimados muito rápido. Então Gilvan tomou medidas duras. Com o time no Z-4, gastou um dinheiro que o time simplesmente não tinha, para trazer dois grandes reforços, além de demitir Paulo Bento.

A volta de Mano Menezes, aliado a eficácia dos novos reforços, em especial, o atacante argentino Ramon Ábila, tiraram o time do sufoco; pelo menos em campo. Fora dele, o presidente se viu obrigado a fazer uma escolha: pagar as contratações, ou a folha salarial, optando pela segunda opção.

Corrigindo agora erros do passado

A nova gestão assumiu já com uma dívida três vezes maior, porém com um elenco muito bom. A partir daí, conseguiu reforçar o time usando o mesmo modelo: trocas e empréstimos, além de contar com investidores para fazer contratações de maior custo.

Economista, Wagner Pires de Sá tenta colocar contas do Cruzeiro em dia estratégia ousada Economista, Wagner Pires de Sá tenta colocar contas do Cruzeiro em dia estratégia ousada

O empréstimo proposto de R$ 300 milhões é a tentativa de fechar uma torneira; que está jorrando água há quase 10 anos. Essa situação, poderia ter sido evitada.

Tanto Zezé Perrella quanto Gilvan de Pinho Tavares poderiam ter proposto exatamente o mesmo plano econômico que Wagner Pires propõe. Mas o erro maior, não foi não ter feito a mesma coisa, mas não ter feito nada para cuidar do futuro do clube.

Ambos saíram da presidência sem um plano de longo prazo em relação às dívidas. É preciso aprender que o papel de um presidente não se estende apenas no tempo em que dura seu mandato, pois os frutos são colhidos pelo clube por longos anos.

Por: Edson Ribeiro