Resposta ao Tempo


Batidas na porta da frente. É o tempo. Eu bebo um pouquinho. Prá ter argumento. Mas fico sem jeito. Calado, ele ri. Ele zomba. Do quanto eu chorei. Porque sabe passar. E eu não sei.

Resposta ao TempoEstava ouvindo essa música hoje de manhã, que se chama Resposta ao Tempo, e já nasceu bonita. E na voz da Nana Caymmi ela fica ainda mais linda de todas. Mas deixando de lado as músicas populares brasileiras e a tradição de um sobrenome, cabe aqui uma reflexão: quanto tempo seria necessário ao futuro para que pudesse parar de ser ditado pelo passado?

Em se tratando de futebol, levaria anos, talvez séculos. As pessoas não sabem enxergar o futuro sem ter que olhar o passado recente, e se engana muito quem o faz, porque o passado recente não diz lá muita coisa sobre nada. Ele foi somente um momento, e, se for repetido, acabará por virar realmente um passado digno de ser lembrado. Mas somente quando olhamos um pouco mais lá atrás, do que apenas uma semana, é que temos a possibilidade de enxergar à frente.

Digo isso porque nossa estreia no Campeonato Brasileiro foi um fiasco. E, agora, sem a desculpa doce de se disputar uma Libertadores em paralelo, porque essa já faz parte do real passado. Dessa vez, não deveríamos “brincar” no campeonato, mas acabou que foi isso que o time deve ter feito, porque perder para o Figueirense é duro, é chato, e vai fazer a maior falta lá na frente, uma vez que esse é o típico adversário de seis pontos. Com todo respeito ao time do Figueirense e à sua história (mesmo que eu desconheça ambos), o Cruzeiro tinha que ter descido ao sul do Brasil para enfiar uma vitória acachapante na esquadra catarinense e mostrar a que veio. Mas (maldição do campeonato 2010, talvez,?), nem ele e nem os outros dois primeiros colocados venceram na primeira rodada. A trinca de ouro da temporada passada amargou, nesse primeiro jogo, a perda crassa de três pontos.

E isso, para alguns, já é motivo de desespero intergaláctico; é motivo para mandar todo mundo embora. Certo?

Bem, todo mundo embora, não. Mas algumas peças já mostram que precisam ser revistas.

Folheando um jornal qualquer hoje, vi que alguns homens do time estão se mordendo por pouco e pensando em ir embora. Dentre eles, Pedro Ken e Gilberto. O primeiro diz que não tem espaço no time e, procurado por outros clubes da série A, aventa ir embora do Cruzeiro. Já Gilberto anda insatisfeito com a imprensa mineira, que, segundo ele, coloca a vitória do time na conta da equipe; mas, quando perde, a culpa é da falta de um lateral de qualidade na esquadra. Que, via de regra, seria ele.

Vamos por partes.

Quanto tempo necessita a diretoria para entender que Pedro Ken, no Cruzeiro, só aumenta a média de jogadores que sensualizam, e não a média dos que jogam? A perda com a ida de Pedrito para qualquer outro clube da série A é somente da torcida feminina, nesse caso, se estenderia a todos os outros setores da China Azul caso ele demonstrasse ser um jogador mega ótimo que faz 183 coisas que prestam e, dentre elas, o gol. Acho que está mais fácil acharem o corpo de Bin Laden no mar do que acharem um talento no namorado da Barbie (mas não fica triste não, tá, Pedro, porque você tem talento total para as passarelas do mundo e também para a casa de algumas leitoras, que eu sei).

Quanto à declaração de Gilberto, eu fico surpresa. Eu demorei menos de 24 anos para aprender que “quando eu acerto, ninguém se lembra; quando eu erro, ninguém se esquece”. Eu tinha até essa filosofia de vida escrita de corretivo (Erroex, lembram? hehehe) na minha mochila Company cinza da oitava série, e isso me ajudou a viver e até a virar jornalista, meio onde a frase é uma baita verdade. Ele já tem 35 e não aprendeu até agora? Pergunta que não quer calar: nem com o que está discriminado no contracheque do sujeito ele aprendeu? Tadinha de mim. Tive que aprender a aceitar o bullying da vida e a ser pobre ao mesmo tempo.

Par Gilberto, que eu amo de paixão, eu não vou pedir que fique ou que repense, porque quando chega nessa beirada de desgaste, é porque o troço degringolou geral e talvez o melhor mesmo (ai, que dor no coração de falar isso!) seja sair fora. Mas mesmo assim gostaria de lembrar um pouquinho daqueles velhos e bons tempos, nem tão remotos, em que tínhamos um treinador que podia ser a escória de 80% da torcida, mas que era mestre em lidar com a lingüinha felina dos jornalistas/sensacionalistas mineiros. Ah, que saudade do tio…

Enfim, o que quis dizer hoje, com a música, com Pedro Ken e com Gilberto, é que o tempo é mano velho, como diria Pato Fu, e que falta um tempo ainda para ele correr macio. O resultado da primeira rodada não deveria ser desesperador, bem menos ilusório, se o resultado fosse positivo para nós. Ele deve, apenas, alarmar alguma coisa. Acordar algumas pessoas. Fazer reviver as glórias de um passado que realmente existe, e é glorioso. Afinal, como deliciosamente canta Nana, o tempo

No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, e ele não vai poder
Me esquecer

A vida está aí para provar que acabamos esquecendo, com o tempo, do que o tempo trouxe. Mas a história – com tantos títulos e momentos gloriosos que vivem se repetindo – também prova que o tempo, sendo ele bom ou ruim, jamais se esquecerá do Cruzeiro.

*o texto de hoje é dedicado a dois leitores especiais. O primeiro, meu pai, o mais tricolor de toda a nação Fluminense, que também sofreu na primeira rodada, pelo seu aniversário hoje! O segundo, o cara que é mais bonito que Pedro Ken, e  me apresentou essa música, que vale muito a pena ser baixada!